Monitoramento de pragas: Broca-do-café
* Por Silas Calazans, agrônomo e Coordenador de Transformação Digital da Syngenta Digital
A broca-do-café é uma praga encontrada em todas as regiões produtoras da cultura no mundo. Isso, somado ao fato de que ataca os frutos em praticamente qualquer estágio de maturação – causando perdas consideráveis à produção e qualidade do café – faz com que ela seja uma das pragas mais importantes na cafeicultura.
Da espécie Hypothenemus hampei, a broca-do-cafeeiro é um pequeno besouro de cor preta (Coleoptera: Scolytidae) cujas fêmeas adultas medem aproximadamente 1,7mm de comprimento e 0,7mm de largura. São elas que atacam a região da ‘coroa’ do fruto, perfurando os grãos e depositando seus ovos algum tempo depois. As larvas que nascem desses ovos se alimentam dos grãos do café, danificando normalmente uma das sementes do fruto. Os machos possuem as asas atrofiadas, por isso, não voam e ficam constantemente dentro dos frutos.
Prejuízos econômicos e na qualidade do café
De acordo com a Embrapa e a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em casos extremos, os prejuízos pela perda de peso dos frutos podem chegar a 20% (12 kg por saco de 60 kg de café beneficiado). Além disso, a quantidade de frutos borcados e quebrados terá impacto direto na classificação dos grãos no momento da venda. Para cada 5 grãos brocados e/ou quebrados na amostra, o lote de café é penalizado com um defeito no sistema de classificação. Empresas exportadoras aceitam no máximo 10% de grãos brocados.

Além do impacto quantitativo já mencionado, a praga também impacta indiretamente na qualidade da bebida, visto que ao perfurar os grãos, as fêmeas da broca abrem portas de entrada para outros microrganismos (como fungos do gênero Fusarium e Penicillium). Existem ainda indícios de que alterações fisiológicas na planta, síntese de compostos químicos para autoproteção, podem alterar a qualidade final do produto. Segundo a Embrapa, na indústria, fragmentos de insetos acima do permitido foram encontrados na maioria das marcas de café registradas, sendo que 91% desses fragmentos são da broca.
O manejo da broca-do-café
O Período de Trânsito da broca (entre 80 e 90 dias após a florada) é quando as amostragens para avaliação da praga devem se iniciar. Como esse período ocorre normalmente entre novembro e janeiro, é esperado que a infestação da praga aumente até a colheita do café, atingindo seu pico entre meados de junho e final de agosto caso não seja feito o controle.
Estudos realizados em café conilon, no Espírito Santo e em Rondônia, mostraram que, na entressafra, cerca de 70% dos frutos remanescentes da colheita estavam atacados pela broca. Por isso, o controle cultural seja, talvez, o mais importante dos métodos de controle para essa praga.
Colheita bem feita, com repasse e varrição (colheita de chão), são essenciais para que o mínimo possível de frutos permaneça na lavoura entre uma safra e outra. Além disso, a ocorrência de chuva no inverno, os cultivos adensados, a baixa incidência de luz e o pouco arejamento são condições que favorecem o desenvolvimento dessa praga. Qualquer manejo que visa à alteração dessas condições será benéfico no controle da broca-do-café. Erradicação de lavouras abandonadas onde o inseto pode se reproduzir livremente também é uma ação muito importante.
Monitoramento e controle químico
Para a realização do controle químico, as principais entidades agrícolas no Brasil recomendam o monitoramento e acompanhamento dos níveis de infestação da praga. A crescente preocupação com o consumo de alimentos saudáveis, a saúde dos aplicadores de defensivos agrícolas, o meio ambiente e a sustentabilidade da atividade agrícola e cafeeira como um todo demandam o uso racional dos produtos fitossanitários.
Para uma tomada de decisão assertiva e manutenção das pragas abaixo no nível de dano econômico, Embrapa e CNA Brasil recomendam que o monitoramento seja realizado em zigue-zague, escolhendo-se aleatoriamente 30 plantas no talhão ou 20 plantas por hectare (para um monitoramento mais detalhado). Deve-se dividir visualmente a planta em terço inferior, médio e superior, amostrando-se – pelo menos – dois ramos de cada lado da planta em cada terço. Para cada ramo, observar 10 frutos entre as rosetas tomando nota da quantidade de grãos perfurados. Caso a porcentagem de frutos brocados seja maior que 3%, é recomendável iniciar o controle químico.

Após a primeira aplicação, o monitoramento da broca deverá ser repetido pelo menos a cada 30 dias. Após iniciar as aplicações, é recomendado realizar a contagem e coleta dos grãos perfurados. Em seguida, esses grãos serão abertos para a contagem de adultos vivos. Se a relação de adultos vivos/frutos perfurados abertos for maior ou igual a 3%, realizar nova pulverização.
É possível ainda utilizar armadilhas para monitoramento da Broca, como as Bio broca, Iapar ou até mesmo armadilhas de fabricação caseira à base de etanol, metanol e ácido benzoico – como recomendado na cartilha da CNA. Cem adultos por armadilha também é um nível de controle recomendado nesse caso.
Podemos mencionar ainda formas alternativas ou complementares de controle, como o controle biológico. A vespa-da-costa-do-marfim (Cephalonomia sp.) é um importante inimigo natural da broca-do-café. O fungo Beauveria bassiana também é comumente encontrado em lavouras fazendo o controle natural da broca.
Digital no manejo da broca-do-café
O uso da tecnologia no monitoramento e na produção cafeeira como um todo pode auxiliar produtor, consultor e agrônomos, em geral, em uma tomada de decisão mais rápida e assertiva. Com a tecnologia, é possível definir aleatoriamente pontos amostrais nas lavouras, a quantidade mínima de pontos amostrais, o caminhamento a ser seguido, além de acompanhar a execução da atividade no campo.

Com os dados e as imagens do monitoramento no campo, o responsável poderá avaliar não só os índices de infestação da praga, mas entender como o monitoramento foi realizado; entender a distribuição geográfica dos pontos amostrais; saber em detalhes quais os locais com maior infestação da praga e qual o comportamento da mesma na sua lavoura. A tecnologia auxilia ainda na própria gestão da mão de obra responsável por esse e outros monitoramentos.
Após as primeiras aplicações e novos monitoramentos na área, é possível ao dono ou responsável técnico entender a eficiência da aplicação realizada comparando os dados da aplicação com os níveis de infestação antes e depois da mesma.
O uso da tecnologia para coletas e amostragem em campo permite que seja criado naturalmente um histórico das lavouras, com informações importantes que poderão servir de subsídio para o planejamento da próxima safra, facilitar processos de auditoria e certificação, além de resguardar todas as decisões tomadas ao longo da safra.
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